quinta-feira, 22 de julho de 2010

As Duas Jóias



Essa história foi me passada pela amiga Lila Peres e narra a antiga lenda árabe de um rabino, religioso dedicado, que vivia muito feliz com sua família, esposa admirável e dois filhos queridos, baseando nela escrevi alguns pensamentos que foram enviados até mim.

Certa vez, por imperativos da religião, o rabino, empreendeu longa viagem ausentando-se do lar por vários dias. No período em que estava fora, um grave acidente provocou a morte de seus dois filhos. A mãe sentiu o coração dilacerado de dor. No entanto, por ser uma mulher forte, sustentada pela fé e pela confiança em Deus, suportou o choque com bravura, mas uma preocupação lhe vinha à mente: como dar ao esposo a triste notícia? Sabendo que o marido tinha o coração fraco, temia que não suportasse tamanha comoção. Lembrou-se então de fazer uma prece. E rogou a Deus auxílio para resolver a difícil questão.

Alguns dias depois, num final de tarde, o rabino retornou ao lar. Abraçou longamente a esposa e perguntou pelos filhos. Ela pediu para que não se preocupasse. Que tomasse o seu banho e logo depois ela lhe falaria dos moços.
Alguns minutos depois estavam ambos sentados à mesa. Ela lhe perguntou sobre a viagem e em seguida ele perguntou novamente pelos filhos. A esposa, numa atitude um tanto sem graça, respondeu ao marido:

- Deixemos os filhos. Primeiro quero que me ajude a resolver um problema que considero grave.

O marido, já um pouco preocupado perguntou:

- O que aconteceu? Notei você abatida! Fale e resolveremos isso juntos, com a ajuda de Deus.

- Enquanto você esteve ausente, um amigo nosso visitou-me e deixou duas jóias de valor incalculável, para que as guardasse. São jóias muito preciosas. Jamais vi algo tão belo... Ele vem buscá-las e eu não estou disposta a devolvê-las, pois já me afeiçoei a elas. O problema é esse! O que você me diz?

- Ora mulher! Não estou entendendo o seu comportamento. Você nunca cultivou vaidades. Por que isso agora?

- É que nunca havia visto jóias assim! São maravilhosas!

- Podem até ser, mas não lhe pertencem. Terá que devolvê-las.

- Mas eu não consigo aceitar a idéia de perdê-las!

E o rabino respondeu com firmeza:

- Ninguém perde o que não possui. – e continuou – Retê-las equivaleria a roubo. Vamos devolvê-las! Eu a ajudarei, faremos isso juntos, hoje mesmo.

- Pois bem meu querido, seja feita a sua vontade. – e disse a mulher que seguiu em seu discurso – O tesouro será devolvido. Na verdade isso já foi feito. As jóias preciosas eram nossos filhos. Deus os confiou a nossa guarda e durante a sua viagem veio buscá-los. Eles se foram...

O rabino compreendeu a mensagem. Abraçou a esposa e juntos derramaram muitas lágrimas.

Porém existe uma diferença entre dor e sofrimento. A dor de certa forma é inevitável, mesmo quando se tem conhecimento perante as leis da vida, porém de forma mais branda. O sofrimento cabe a cada um decidir quanto tempo ficará a sofrer.

Quando essa última frase toma o papel, não lhes digo que é fácil “levantar a cabeça e dar a volta por cima”, mas digo que é preciso de certa forma, até obrigatório, pois se você não agir por vontade própria, chegará um momento de sua vida em que todas as circunstâncias o levarão a levantar e caminhar.

Quando uma pessoa que nos é próxima desencarna, temos a primeira impressão que ela nos deixou. Achamos que Deus, em algum momento, não deveria tê-la levado, que foi injusto e até citamos pessoas de maus atos que ELE deveria levar ao invés do nosso ente querido. Pensamentos assim nos tornam pessoas egoístas, até achamos que temos mais sabedoria e melhores planos que o criador.

Devemos aceitar esses acontecimentos sabendo diferenciar a dor do sofrimento para assim conseguirmos digerir quando chegar a hora de passarmos por esse momento. Não estamos preparados para que um ente querido desencarne, pois em 100% das vezes não dissemos tudo que queríamos a essa pessoa, não passamos o tempo que gostaríamos com ela ou acreditamos que poderíamos ter dado mais beijos e abraços, perdoado, etc.

Então, precisamos sair da inércia, perder a vergonha e fazer tudo isso enquanto ainda há tempo, para depois não pensarmos que a música EPITÀFIO, do Titãs, tem haver com a gente.

Fiquem em paz

Léo Saraiva

7 comentários:

  1. Como sempre suas palavras e analogias são lindas! Mais uma vez me emocionei. Cada dia aprendo mais com seus textos. Você é um presente em minha vida, viu? Presente de Deus! Cheiro.

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  2. Não sabe como me foi util, como eu aprendo, cresço, como me envolvo de forma que chego até a ficar arrepiada, e muitas vezes emocionada.
    Leo, obrigada por me ensinar, por me orientar, obrigada pelos grandes ensinamentos que passaste atravéz desse grande blog.

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  3. Acabo de ler e me emocionar muito.
    Tao perfeito, tao dificil aplicar..sábias palavras!!!!
    FANTASTICO>
    Obrigada querido!!!
    Bjs

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  4. AMIGO, FICO MUIOT FELIZ, PELA CAMINHADA BRILHANTE QUE RESOLVEU SEGUIR.
    DEUS NOS CONFORTA NOS GUIA E ESSE FAZ O MELHOR PARA NÓS, NA HORA SOFREMOS, FICAMOS CHATEADOS COM ELE, RECLAMOS E ÀS VEZES ATÉ DESCRENTE FICAMOS, MAS NÃO PODEMOS AGIR ASSIM.

    ONDE SE TEM AMOR, SOFRIMENTO NÃO SOBREVIVERÁ.

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  5. Lindo esse texto... me emocionei mt ao ler...

    Sabemos através dos ensinamentos espirituais, que todos nós ao fecharmos nossos olhos para a vida material e nos transferirmos para a vida espiritual,passamos por um período de adaptação. Então, requer daqueles que ficaram, o amparo da prece e de vibrações de amor e de que seus sofrimentos não ultrapassem aquele da saudade, sem extrapolar para a revolta com os desígnios de Deus.

    Devemos ter a certeza que quando nós emitimos paz, força e luz para esses, eles recebem a força dos nossos pensamentos.

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  6. Luiz Henrique Vieira Simões6 de agosto de 2010 às 00:52

    Adorei a tua mensagem, ela me ajudou a repensar em alguns acontecimentos que se passaram comigo, me tocou muito o texto. Obrigado

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